terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Vem quem quer. Vá embora, se conseguir.

Para os que vivem abaixo da linha do Equador, subir a Espírito Santo e ir até o bar do Chico com a alcunha de “bar vem quem quer” faz todo o sentido. Afinal, eu, eterno quase ex fumante, escalar uma das ruas mais longas e íngremes de JF requer uma vontade fora do comum, você há, então, de concordar com nome. A não ser que você more do lado de cima da linha.

Perdoe-me a parcialidade tratada em todo post – dois, com esse – mas é que foi no bar do Chico que desenvolvi boas e duradouras amizades e o tato apaixonado pelo futebol canela. Chico contava com dois televisores, um, nos jogos do Tupi, outros em qualquer time carioca de tradição inferior ao Galo Carijó. Excluo nessa o meu Botafogo, campeão de 1910 e desde de então glórias não lhe faltam. Porém as glórias não apareceram por três consecutivos, tristes e intermináveis anos.

Prezando pelo tamanho do parágrafo, vos digo, em 2007 o Botafogo tinha um time recheado de talentos, basta ver que eu enchia a boca para gritar a cada falta batida: “AH, É LÚCIO FLÁVIO”. Isso sem falar de Dodô, o artilheiro dos gols bonitos, além de Jorge Henrique, hoje diamante da fiel e Juninho, a bomba é por parte dele. Naquele ano, chamaram o glorioso de carrossel alvinegro. Perdemos nos pênaltis (jura?) e começamos a saga rival ao tricampeonato. Sabe quem apitou? Djalma Beltrami, o mesmo que comandou a invasão ao Morro do Alemão e expulsou o Dodô no jogo.

Em 2008 eu já contava com o vice campeonato e nem saí de casa para subir a Olegário (eu morava no Vale do Ipê) em busca de cerveja e torresmo, me contentei com o garotinho na rádio Globo e chorei minhas pitangas desligando o celular pois já contava com amizade rubro-negra em me avisar: o FLA era BI.

Agora, em 2009 eu estava confiante, contudo o anão Juan quebrou Maicosuel, o zagueiro Emerson fez DOIS gols contra e meu time na finalissíma era composto quase todo por reservas, ou você acha Fahel e Alessandro são titulares em algum time decente. Vesti a camisa, subi ao Chico, conversei com Lili, sua filha, vi o Fla fazer 2 a 0 e o Botafgo empatar com os reservas no segundo tempo, encomendei a faixa, belisquei um torresmo, que acredite, é melhor que do que o do Bigode, pedi meia lingüiça meio torresmo e bastante limão, um dos melhores que já comi, bebi minha cerveja estupidamente gelada e me levantei, era Leandro, O GUERREIRO que ia bater o último e derradeiro pênalti. Bruno. Nas mãos de Bruno. O FLA era TRI.

Além do futebol, artigo essencial para fidelizar a clientela de qualquer boteco, Chico preza pela educação, chamando cada cliente de “fala, meu bem”. Seu Antônio sabe o ponto da cerveja e Juliano, ex garçom, sempre passa por lá para gritar as poucas vitórias do rubro negro. Ainda tem a Elza Soares, moradora das redondezas, cheia de shows,que costuma passar depois que o sol se põe. Chico tem sim o melhor torresmo da cidade até que eu coma outro melhor e ainda te ajuda no preparo físico, afinal, subir aqueles morros não é para qualquer um.

Meio futebol, meio boteco escolhi 2010 para ver no maracanã a sorte do meu Fogão virar e ter toda a certeza do mundo que o não deixava meu time ser campeão eram aqueles flamenguistas do bar do Chico, mas eu ainda volto lá! E viva El Loco!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Bigode & Xororó (Martelo-agalopado de dez pés) por Kadu Mauad


1.

Vou no Bar do Bigode & Xororó

na rua Chanceler Oswaldo Aranha.

pra comer o torresmo que acompanha

a cerveja gelada do esquimó.

Pra gelar a moleira e o gogó,

me aboleto num canto da área Vip,

petiscando a iguaria do acepipe,

bato um papo com quem esteja ao lado,

mas afim de levar papo asseado,

que é um xarope pra quem não participe.

2.

Cá no Bar do Bigode só se acerta

no dinheiro ou no cheque pré-datado.

Nunca vi pelo menos um coitado

ir-se embora e deixar a conta aberta;

talvez seja exceção tal descoberta.

Não se aceita cartão nem pendurado.

Isso ajuda aumentar o ordenado

do trabalho de gente, que é direita.

Todo mundo aqui dentro se respeita,

é por isso que o bar tem prosperado.

3.

Mas é bom que se fale de antemão

que, no Bar do Bigode & Xororó,

tem horário que serve pra estar só,

mas tem hora que serve à multidão.

Muito embora eu evite afobação,

vez por outra me ajunto ao falatório.

Então ligo o botão do aleatório

pra falar só de assunto palatável,

ou achar em conversa descartável

o problema fechado no escritório.

4.

Ir a Roma e não ver o Papa é o mesmo

do que vir ao Bigode e não pedir

um torresmo; e se o moço preferir,

o limão, que se pinga meio a esmo,

unge a carne e a banha do torresmo.

Minha boca secou-se na peleja.

Vou pedir ao garçom uma cerveja

mais gelada que a ponta do iceberg.

O meu braço no alto o copo ergue

que nem padre com o Santo Graal na igreja.

5.

Bigode & Xororó louvado seja

esse bar que jamais saiu de moda

frequentado por gente da alta roda

mas também pela gente sertaneja.

Lá não tem preconceito mira e veja!

Basta ver que por todos é benquisto,

do Dr. ao gari, que, pelo visto,

Só se vê no país de Pindorama.

Abre, então, a torneira da CESAMA.

Enche o copo que canto ao povo misto!




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sábado, 18 de dezembro de 2010

Bar do Zé

Algumas vezes nas conversas com amigos e amigas costumo reiterar minha teoria de que um boteco e uma mercearia na maior parte das vezes se fundem. Uma coisa pode nascer da outra. Geralmente uma mercearia começa a servir uma cervejinha no balcão, de forma despretensiosa. Para agradar seus fregueses, o dono coloca ali um queijinho, um amendoim, e quando percebemos saí uma carne de panela, um pernilzinho, dentre outras receitas, geralmente feitas na casa do dono da mercearia. Pronto, a mercearia graduou-se boteco e tornou-se ponto de encontro de amigos e amigas. Espaço para as horas que antecedem o almoço em dias de sábado ou domingo de sol. Ainda também, lugar bom de ver cair a noite.

No meu prodigioso bairro Santa Helena temos o Bar do Zé. Estrutura aparente de mercearia mas alma de boteco. Cerveja gelada sempre, uma decoração agradável que fala muito sobre o dono do local. Nas paredes você confere, através de fotografias, as aventuras do Zé por esse Brasil além de agora contarmos com um mural dedicado a memória recente do próprio bar.

O Zé, diga-se de passagem, é parte fundamental desse empreendimento. Sempre acolhendo seus fregueses, é também a garantia de uma boa conversa. Pessoa convicta, sábia, conhecedor da música popular brasileira, instrumentista de ouvido, muitas vezes nos brinda com umas dedilhadas no cavaquinho.

O Bar do Zé tem uma característica de exímio boteco, a freguesia fiel, que faz do lugar uma constante reunião de amigos. É possível ir até lá, tomar uma cerveja, comer um queijinho, um pernil (quando tem o pernil, recomendo experimentar) ouvir música da boa, seja nos discos de vinil da coleção do Zé, seja num bom samba que se forma ali casual.mente Diga-se de passagem, as rodinhas de samba de lá são daquelas mais excepcionais. Meu parceiro Carlos Fernando e meu grande amigo Alexandre, comparecem e dão brilho a música e a conversa.

Enfim, um lugar para a boa conversa e para molhar a garganta na companhia de amigos especiais.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Rua Uruguaiana, 72 - Bar do Léo

Escrever sobre o Bar do Léo é relembrar da minha infância, vivi de 87 à 97 ou 98, sei lá, na Rua Uruguaiana, 72, apartamento 4 - Jardim Glória. Desculpe o humilde locatário dessa residência, mas ela é minha, por infância. Tinha caderneta, comprava material escolar lá (sim, vendia) e conhecia do saudoso Leo a toda família, incluindo Rita, Adriana e seu filho que um dia presenteei, mas confesso que não lembro o nome, passando pelo namorado de Rita até os clientes mais chegados.

Neste último sábado, dia 11.12.10, fui de táxi ao Bar do Leo, esquecendo de uma premissa essencial para o êxito da missão: Chegue cedo, pequeno gafanhoto. Pois é, logo eu, que bato no peito e aponto e toda qualquer mudança existe dos “meus tempos” pra cá, esqueci que o samba no seu Leo começava lá pelas 11 da matina e embalava os cervejeiros boêmios da matinê até umas seis da tarde.

Aos que não sabem, a praça do Léo tinha nome de Ministrinho, devido o sambista que habitava os finais de semana e tirava o sono vespertino do meu pai. Praça, que antes tinha uma areia, com crianças brincando e subindo nos postes para ver quem chegava mais alto. Meu medo era cair de lá, mas mesmo assim subia, descer era pior, acreditem. Hoje, colocaram pedra em tudo e até a Mina de águas que vinham do cemitério, lenda urbana, está sendo reformada. Tiraram a areia, sintomas de sintomas, hoje é tudo assim.

Rita e seu exercito de poucos homens garçons não anotam o pedido feito na praça, lembram de cabeça cada ótimo pastel pedido e pode acreditar, eles chegam a você sem qualquer erro ou confusão. Até os últimos dias, Léo tinha uma memória melhor de que muito jovem, por exemplo, a minha, e anotava os pedidos finais pelo seu nome, só dava calote quem tentasse muito. No mais, as bolinhas de queijo, todos, sim, todos os tipos de pastéis e as bolinhas de bacalhau são sempre certeiros e merecem uma oração antes do deguste.

Seja aos finais de semana ou uma tarde de calor, após o trabalho, todos os quitutes do bar do Léo são sempre bem vindos com cerveja gelada. E se você está de férias pode chegar após às 9 horas da manhã, Rita já está de pé, com poucas mesas na praça, mas a simpatia de sempre.

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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Vá ao Piriá, mas se ele não estiver...

A foto é do blog Juiz de Fora Online


Existe uma máxima nos parâmetros de qualidade de um boteco que diz que para saber sua qualidade devemos observar se o dono sai pra comer no boteco ao lado. Um incauto poderia se enganar ao chegar nas imediações do Bar do Piriá e vê-lo sentado na lanchonete ao lado. Mas quem frequenta o local já sabe que ele vai mesmo lá é para tomar uma cerveja.

Existem inúmeras teorias conspiratórias para explicar tal fato, que vão desde mirabolantes especulações sobre a predileção do Piriá pela cerveja A ou B, até mesmo dizem, veja só, que ele iria lá, pelo simples fato de que a cerveja da vizinha é mais gelada do que a dele. Mas nada disso explica. A verdade é que o Piriá é um dos donos de boteco de Juiz de fora que traz consigo um sentimento fundamental: o amor ao boteco. Sim, meu caro leitor, vosso interlocutor lhe revela este segredo aparentemente simples mas deveras civilizatório. O cara vai no boteco ao lado por que gosta de ir a boteco. E veja bem, trabalho é trabalho, diversão é diversão.

Nunca verás Piriá sem sua caracterização básica porém funcional e moderna. Boné, que ajuda a proteger o cocuruto, além de dar um visual mais jovem, bermuda para tornar os dias de calor mais tranquilos, camisas de times de futebol são comuns, sandálias, mas veja bem, geralmente as papetes que garantem conforto a quem vai de lá pra cá durante horas para bem servir seus clientes. Aliás, clientes não. Quem tem cliente é loja de roupa, boteco tem freguês ou amigo e amiga. Em um dos ombros este distinto senhor traz sempre seu pano de prato, que nos botecos, cabe dizer, não se restringe a um único papel. Pano de prato junto ao ombro, em boteco, é polivalente. Seca copos, limpa mesas, secar suor da testa e espanta as moscas.

Mas Piriá não trabalha sozinho. Tem ao seu lado sua querida esposa, que cometo aqui uma gafe infeliz da qual me penitencio, não saber seu nome. A senhora dele é sem dúvida a alma pensante do boteco. Ela faz funcionar a estrutura cabal deste lugarejo. Eu diria até que o Piriá é uma espécie de relações públicas do lugar.

E para quem acha que um bom boteco só faz referencia ao samba e a música popular, no Piriá você pode beber sua cerveja e ver um belo poster dos Beatles na parede, além de fotos que revelam a memória deste local.

O Piriá, devido sua localização estratégica, é por vezes utilizada por pessoas como eu, nas horas que antecedem os memoráveis derbys do Tupi Futebol Clube. Devido a proibição da venda de bebidas nos estádios, muitas vezes molhamos a garganta ali antes de ir assistir o Galo Carijó judiar de seus adversários na grama verde do Helenão, vulgo Estádio Radialista Mário Helênio.

O Piriá é um ponto tranquilo na agitada avenida Independência. Entre suas vantagens oferece mesas na caçada em um ponto de passagem.

Entre seus atrativos, um farto cardápio, mas que tem como carro chefe a incrível asinha de frango frita, que pode ser solicitada por unidade, além da cerveja gelada e de preço honesto.

Mas já sabe, se o dono do bar não estiver lá, não se preocupe, ele foi ali do lado, exercer sua paixão pelo boteco e já volta.


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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Sábado de sol - às vezes mais vale a sombra do Futrica

Quando o astro-rei dá a alegria de enfeitar um sábado na cidade de Juiz de Fora, aqueles que se empenham na arte do butiquim se ouriçam mediante as fartas possibilidades de molhar a garganta e saborear estupendos tira-gostos na diversidade de botecos que a cidade oferece.

Muitos preferem ficar ao ar livre, fato este compreensível, tendo em vista o calor. Vide o aglomerado que se forma no respeitável Bar do Léo, no bairro Jardim Glória e nas milhares de calçadas tomadas respeitosamente por mesas de bares. Eu, como alguns sabem acho algo de grandioso a mesa na calçada. Já disse em meus poemas que a mesa na calçada favorece observar as moças que desfilam impunemente, permite ver aquele amigo ou amiga que de carro passa, e chamá-los para compor o time neste derby decisivo.

Mas quando a sede aperta nas manhãs de sábado, quase sempre vem a minha mente um dos mais famosos e tradicionais bares desta cidade, o Bar do Futrica. Esta jóia do mapa da boemia juizforana existe desde 1957 e promove a união de elementos indispensáveis ao boteco. Em primeiro lugar a cerveja estupidamente gelada. Lá você encontra todas elas. Além disso, o carro-chefe da casa, ainda perfeito, o chope da Brahma, estalando de gelado. Em segundo lugar, o bar vive uma atmosfera de paixão pelo futebol contagiante. Seus proprietários são grandes promotores do ludopédio descontraído, vulgarmente conhecido como pelada. Em terceiro as comidas, que merecem parágrafo especial.

Resumidamente no Futrica minha felicidade se amplia devido a algo que poucos bares preservam: tira-gosto de estufa. Tal item permite uma conveniência maravilhosa. Explico: eu estou ali no balcão e quero tomar um chope e tirar um gosto com algo de sabor efetivo. Posso pedir uma linguiça. Isso, apenas uma linguiicnha, que poderei cortar eu mesmo com garfo e faca, apimentá-la deliciosamente e satisfazer minha vontade. Encontra-se também, no calor que embassa o vidro da dita cuja estufa, um excelente quibe e um belo bolinho de bacalhau. Este último, peço que tenham atenção, é especificamente de boteco. Quem quiser comer bolinho de bacalhau com bacalhau do porto, que coma o bacalhau puro, certo? Bolinho é outro assunto.

Fora da estufa você pode se deliciar com o tradicional churrasquinho com maionese. Uma carne honesta no espeto, com uma maionese de batatas, que enchem os olhos, servidos no prato, para se comer com garfo e faca, ou como você bem entender.

Atraindo inúmeros curiosos, lá você encontra a famosa Pizza Grega, que sabe-se lá tem esse nome. Diferente dessas coisas que encontramos em rodízios perfumados, a pizza do Futrica tem massa embaixo e em cima, e queijo do tipo reino. A massa, meticulosamente feita com menos farinha, a torna leve e deliciosa, ainda mais macia devido a sua junção celestial com o queijo.

Pode-se comer um prato feito todos os dias. E aos sábados, a melhor feijoada da cidade. Peço desculpas aos demais amigos dos botecos da cidade mas é a pura verdade. A feijoada do Futrica é algo que "não se deveria comer sem estar de joelhos e no máximo pensando na mulher amada" como diria Vinnicius de Moraes.

É por isso, meus amigos e amigas, que mesmo nas manhãs mais quentes eu escolho esse bar, muitas vezes pouco fresco, localizado numa galeria fechadinha, carinhosamente apelidada de galeria dos pobres, para dividir com pessoas especiais, as manhãs e inícios de tarde de sábado.

E vale dizer, caso não tenha companhia, que o Futrica é um daqueles botecos que a gente boa já vem com o bar. Basta ir, acomodar-se ao balcão e desfrutar de boas horas de felicidade.






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