Para os que vivem abaixo da linha do Equador, subir a Espírito Santo e ir até o bar do Chico com a alcunha de “bar vem quem quer” faz todo o sentido. Afinal, eu, eterno quase ex fumante, escalar uma das ruas mais longas e íngremes de JF requer uma vontade fora do comum, você há, então, de concordar com nome. A não ser que você more do lado de cima da linha.
Perdoe-me a parcialidade tratada em todo post – dois, com esse – mas é que foi no bar do Chico que desenvolvi boas e duradouras amizades e o tato apaixonado pelo futebol canela. Chico contava com dois televisores, um, nos jogos do Tupi, outros em qualquer time carioca de tradição inferior ao Galo Carijó. Excluo nessa o meu Botafogo, campeão de 1910 e desde de então glórias não lhe faltam. Porém as glórias não apareceram por três consecutivos, tristes e intermináveis anos.
Prezando pelo tamanho do parágrafo, vos digo, em 2007 o Botafogo tinha um time recheado de talentos, basta ver que eu enchia a boca para gritar a cada falta batida: “AH, É LÚCIO FLÁVIO”. Isso sem falar de Dodô, o artilheiro dos gols bonitos, além de Jorge Henrique, hoje diamante da fiel e Juninho, a bomba é por parte dele. Naquele ano, chamaram o glorioso de carrossel alvinegro. Perdemos nos pênaltis (jura?) e começamos a saga rival ao tricampeonato. Sabe quem apitou? Djalma Beltrami, o mesmo que comandou a invasão ao Morro do Alemão e expulsou o Dodô no jogo.
Em 2008 eu já contava com o vice campeonato e nem saí de casa para subir a Olegário (eu morava no Vale do Ipê) em busca de cerveja e torresmo, me contentei com o garotinho na rádio Globo e chorei minhas pitangas desligando o celular pois já contava com amizade rubro-negra em me avisar: o FLA era BI.
Agora, em 2009 eu estava confiante, contudo o anão Juan quebrou Maicosuel, o zagueiro Emerson fez DOIS gols contra e meu time na finalissíma era composto quase todo por reservas, ou você acha Fahel e Alessandro são titulares em algum time decente. Vesti a camisa, subi ao Chico, conversei com Lili, sua filha, vi o Fla fazer 2 a 0 e o Botafgo empatar com os reservas no segundo tempo, encomendei a faixa, belisquei um torresmo, que acredite, é melhor que do que o do Bigode, pedi meia lingüiça meio torresmo e bastante limão, um dos melhores que já comi, bebi minha cerveja estupidamente gelada e me levantei, era Leandro, O GUERREIRO que ia bater o último e derradeiro pênalti. Bruno. Nas mãos de Bruno. O FLA era TRI.
Além do futebol, artigo essencial para fidelizar a clientela de qualquer boteco, Chico preza pela educação, chamando cada cliente de “fala, meu bem”. Seu Antônio sabe o ponto da cerveja e Juliano, ex garçom, sempre passa por lá para gritar as poucas vitórias do rubro negro. Ainda tem a Elza Soares, moradora das redondezas, cheia de shows,que costuma passar depois que o sol se põe. Chico tem sim o melhor torresmo da cidade até que eu coma outro melhor e ainda te ajuda no preparo físico, afinal, subir aqueles morros não é para qualquer um.
Meio futebol, meio boteco escolhi 2010 para ver no maracanã a sorte do meu Fogão virar e ter toda a certeza do mundo que o não deixava meu time ser campeão eram aqueles flamenguistas do bar do Chico, mas eu ainda volto lá! E viva El Loco!