quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Botecagem de verdade tem que ter direito a Replay

Como butequeiro sul-mineiro radicado em Juiz de Fora, confesso antecipadamente que venho fugindo às raízes. Vá lá, em tempo de vacas gordas, eu bem ando freqüentando uns bares assim um cadim mais sofisticados. Sou exemplo do que diz o bom e velho presidente Lula: o povo gosta do bom e do melhor (quem gosta de miséria é intelectual). Apesar disso, quem já se deu ao direito do desregramento que a vida boêmia exige sabe que estes conceitos de qualidade variam significativamente. Vai do gosto do freguês, diz o ditado. Mas ah!, dessa vida de Alto dos Passos e eticétera e tal, que saudade que me dá daquela butecagem mais autêntica, ou mesmo mais honesta, ouso dizer. Ah!, se não troco os requintes gastronômicos por aquele pacotinho de amendoim torrado do vendedor delivery de bar em bar, e as delicadas taças de cervejas – apropriadas para cada um dos tipos desta – pelos tradicionais copos americanos, levemente lascados e arranhados...

Se o buteco é uma espécie de casa que adotamos, apresento à queridagem que agora lê estas linhas meu refúgio juizforano: o Replay Bar. Estrategicamente localizado a dois quarteirões de minha residência (o que oferece uma bela solução logística para os casos advindos das dificuldades proporcionadas pelas experimentações etílicas), o Replay vem me servindo de dois modos. Primeiro, como arquibancada para as solitárias noites de torcida pelo Mengão do meu coração. Em segundo lugar, como porto seguro para as últimas horas das noites de boemia. E é neste quesito que o estabelecimento se destaca. Nos derradeiros instantes antes de a madrugada fazer-se dia, importa que a cerveja esteja gelada, que os quitutes ainda embacem as estufas de vidro, que a calçada comporte mais uma mesa e que restem fichas para o karaokê.

O Replay nunca falhou comigo e com meus chapas em nenhum destes quesitos – e nunca o fará! Tenha a certeza, nobre leitora, nobre leitor, trata-se de uma relação de confiança, ancorada no que há de mais religioso na tradição boêmia. A começar pela cozinha, simples sim, mas, coisa mineira, farta e saborosa. Que se lembre aqui do mexidão – o tradicional, que fiquem bem claro! –, tão caro aos madrugadores da Princezinha de Minas, e menção honrosa ao fígado acebolado, para os carnívoros de plantão.

A questão etílica, razão de ser deste depoimento e do blog que o comporta, vai bem representada. A honestidade dos empreendimentos deste tipo expressa-se já no preço da cerveja, o qual é bem apropriado aos últimos trocados que restaram da noite que se iniciara tantas horas antes. E como o alcoolizar-se se torna muito mais nobre quando feito coletivamente, o público do Replay, de cativo, faz-se cativante. Democrático, antes de tudo, em etnia, religião, nível educacional, mas sobretudo em gostos e talentos musicais. As urnas, símbolo da democracia nas eleições, é aqui substituída pelo karaokê. Canta quem quer o que bem entender, cujo esforço é valorizado por todos os presentes. “Um amor que não cabe em si”, diria Djavan, sendo bastante exato.

Aos pés da alterosa serra que a Avenida dos Andradas inaugura, o Replay destaca-se por levar com simplicidade e de um modo todo seu o bem-viver da boemia. Assim, após ser expulso de um destes bares que fecham cedo, não tenha dúvidas, queridagem, o Replay estará de braços abertos para o tradicional estica.

7 comentários:

  1. Eu ressaltaria aqui o karaoke e a jukebox. Típico momento final de noite pra quem gosta de curtir com emoção extrema as horas que antecedem o raiar do sol. Como disse anteriormente a porção de fígado é honesta. Como diria um amigo botequeiro de primeira, é "filé de fígado" do bom.

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  2. Para quem não bebe como eu (não perguntem o que faço então nesse blog, já esclareço: vim prestigiar o texto de um amigo), valeu a dica para as comilanças. Mexidão sempre é bem-vindo... que falta sinto nestas terras tão frias onde hoje me encontro! E a porção de fígado bastante apetitosa, acredito ter um preço convidativo também. Da próxima vez que estiver aí, vamos experimentar, Gili?

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  3. Grande texto Seninha... Apesar desse não ser meu tipo de buteco, após essa suas palavras deu até vontade de conhecer esse bar. Grande abraço.

    Maiycon Xikin Chagas

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  4. ... eu juro que li outra coisa no "botequeiro" do Rattes.

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  5. Alguem pode me dar o endereço ou telefone do Replay? Gostaria de ir para karaokê. Há outros butecos que tem karaokê?

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