Em atenção, e deveras feliz por aceitar o convite, inauguro uma crônica no Botecos JF. Mas não poderia escrevê-la sem antes agradecer ao colega & amigo, Tiago Rattes, de ter me concedido a honra em colaborar no recém-nascido blog sobre as “tabernas & boutiques” da Princesazinha de Minas, GizdeFora. É com todo prazer que atenderemos de bate-pronto esta sua mais nobilíssima empresa. Será um júbilo, cumpade! Vida longa ao blog etílico, Botecos JF!
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Há muito afastado da vida boêmia me vi na obrigação de fazer uma visita a um dos bares mais famigerados da cidade, o Bigode & Xororó. Sua fama se deve justamente ao fato de eles terem desenvolvido alta tecnologia no preparo sistemático do quitute que acabou por se tornar a galinha dos ovos de ouro: nada mais nada menos do que o Torresmo do Bigode. Servido nos formatos “tira & ponta”, ou no tradicional à pururuca, aquele do crac-crac na dentadura, tem por companhia um meio limão; o trio auriverde pode vir acompanhado pelo refresco que lhe agrade. Expostos na vitrina do balcão frontal, o esfomeado poderá, a seu bel-prazer, dedurar qual das três qualidades que ele deseja tira-gostar junto à loura que escolher (cerveja? Temos 7. Cachaça? 70 vezes 7. ). Escolha feita, sapecam-lhe a indefectível pergunta: – Pica pra um?
Composto de três sedimentos, crosta, banha e carne, o torresmo do Bigode & Xororó é tão indescritível na sua apresentação visual quanto no sabor e na crocância que inebria o paladar do energúmeno. Qualquer alfabeto ou interjeição seria insuficiente para expressar o que significa experimentá-lo, seja com os olhos, seja com a língua. Seu aspecto e espectro são ambos um todo indissociável. A mistura do azedo com o salgado deixa no paladar aquele adstringente que dá uma sensação de frescor nas papilas gustativas e uma sede do camelo mais sequioso.
A filosofia do Bar do Bigode segue o dogma da abençoada e ingênua malícia de todo santo dia – Para levar a vida numa boa é que deve ser. Típico de lá é o método de servir a cerveja joão-bobo. O cliente feliz e salivante ao ver a suada ali, em cima da mesa, na expectativa de sorvê-la, pode tomar um susto com a prestidigitação mandrakeana.
Numa dessas já escutei por lá que, nos primórdios da bodega – quando o Xororó era pequeno... digo, usava fraldas e ainda nem sonhava em ser sócio do João, hermano de DNA do Bigode – que a tábua, onde é fatiada a iguaria, foi comprada de um caixeiro viajante cuja indumentária denunciava sua bíblica procedência. Segundo os donos do Bar, o vendedor (de sandálias, túnica, turbante, barba e o Corão no sovaco) jurou de pés juntos que aquela madeira milenar seria um pedaço original da mesa que estava na Santa Ceia. Pitoresco, não?
Seu cardápio esbanja não só economia no tamanho como também apresenta um extenso rol de tira-gostos variados tanto em espécie monetária quanto na qualidade dos acepipes, que são sempre muito bem-vindos para se mordiscar enquanto se sorve uma cerva pra lá de gelada. Mas com perdão dos racionalistas ou daqueles que se deixam enganar, o torresmo do Bigode já passou de melhor do que. É comida consagrada, em Santa Comunhão, a que muitos são chamados e poucos serão os escolhidos.
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