quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Bar do Chinelato

por Eduardo Freitas, o Preá


A sobriedade plena me impediria de dizer todos os elementos de um local tão sóbrio quanto o boteco em questão.

O Bar do Chinelato carrega consigo muita mais história do que o autor da narrativa conhece e pode construir. Muitos de seus frequentadores poderão e legitimamente nutrirão a raiva mais plena por ausência de fatos construtores de sua identidade ou ainda por não ver em meu relato seus nomes, tão conhecidos, lembrados por aqui.

Minha relação com o toldo verde e suas toalhas de cantina italiana foi um acaso do caso. Caso construído em busca de um aperitivo de botequim barato.

Quando se é estudante o barato jamais sai caro. O aniversário de Roberto era o tema, e o dia ficaria marcado como a ocasião de quebra de condutas. Gritos, palavrões, o individualismo de sua própria mesa e o garçom para si mesmo. Costumes de meninões nem tão novos com seus vinte dois anos, onde tudo era permitido.

Permissões ali negadas. severa e enfaticamente.

Ali não era lugar de palavrões, meu jovem! Muito menos de não-audição do dedilhar de um violão! Ali não!

O que vale valia, e vale naquele lugar: um olhar, atenção e um aperto de mão. de domingo a domingo passei a nutrir ali meu início de semana. Esperava cada um em sua mesa, cada um em seu horário, como a mais rígida disciplina familiar.

E ali estava, entre os meus. Jamais apresentado mas na certeza de que eles eram eles. Esperava ansioso o chegar do violão. Chegava mas não saía do carro antes de duas ou três cervejas.

Despretensiosamente então vinha, junto ao aroma do frango do outro lado da rua.
Do colo do poeta fazia melodia junto aos meus. Alegrava meu domingo. Por anos, por semanas, por dias, fazia a diferença. E eis algo que o tal do boteco tem que ter: diferença.

Lá ela residia de maneira substantiva.

Os donos, pais de um intercâmbio sóbrio. Acolhedores que memorizam seu nome (ou alcunha estranha) na segunda cerveja, recebem assim, dadas as regras, seguidas sem nenhuma coerção.

Fígado, língua, feijão amigo, batata emolduram o cenário de dias agradáveis.

Cerveja gelada, incluindo Itaipava, rebelde no cenário ambeviano. Um bar, ao menos no domingo, com hora para abrir e fechar. Um bar sério. Assim como a tradição exige seus ritos rígidos.

A narração do Bar do Chinelato pode parecer um pouco poética demais, e assim deve ser! O desafio está lançado: leia novamente esse texto depois de passar por lá em um domingo, às 11.30 da manhã e permanecer por ali até as 15.00h

E tenho dito.


(o Bar do Chinelato fica na Av. Presidente Costa e Silva, esquina com a Rua Herman Toledo – São Pedro)

8 comentários:

  1. Merecido... ainda mais por meio da lavra de um dos seus mais notórios, respeitados e fiéis freqüentadores!

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  2. Narração não mais poética do que as tardes de domingo lá! lindo texto, deu saudade de "Chinelatear" com vc! Bora domingo pra lá, gente!

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  3. Eu não curto nada o bar em questão...

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  4. Aqui é o Valdir
    Fiquei muito feliz em saber que o aconchego
    do Bar do Chinelato,até hoje deixa saudades.
    Continuamos acolhendo amigos e estudantes perdidos em nossa cidade.
    Abraços dos amigos Valdir e Tânia

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  5. fui lá hj pela primeira vez e adorei... voltarei mais vezes... comida boa, bebida gelada, clima agradavel, bem a vontade e bom atendimento...

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