quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Ali na esquina, Bar da Esquina

Ali pelos idos de 2002, recém-chegado à Manchester Mineira, andávamos errantes pelas ruas do bairro São Mateus, em busca de cervejas baratas e diversões a preços módicos. Lembro-me que o primeiro bar que forneceu asilo de poucos dígitos aos anseios dos bolsos aos aspirantes a jornalistas foi o extinto Bar do Rezende, ali na esquina da São Mateus com a Romualdo, na rotatória. Á época, o lugar não era muito movimentado e passamos a freqüentá-lo sempre às quartas-feiras, talvez, impulsionados por outros convivas da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora. As marcas eram variadas e acordavam com nossa relação custo-benefício: geralmente, rolava mesmo era Bavária, a prima pobre da AmBev e, posteriormente, a Itaipava.


As quartas-feiras viraram sucesso entre nossos amigos e o bar impraticável, por conta da falta de espaço. E foi por isso, que olhamos para o outro lado da rua. Um misto de mercearia, secos e molhados, decorado por uma significativa quantidade de caixas de cerveja, que reduzia consideravelmente o espaço físico do local, estava lá o Bar da Esquina. Possuía reputação duvidosa e/ou lendária. Diziam que o troco por lá, sempre voltava errado. Nunca liguei. Primeiro, porque meu “tombo” seria leve, já que andava apenas com trocados no bolso. Segundo, porque pela quantidade de cerveja que bebíamos, jamais teríamos condições de fazer contas exatas...

Começamos com umas quartas-feiras, quando deixávamos nossos programas na Rádio Universitária e descíamos do campus da UFJF a pé, para sobrar um pouco mais de dinheiro para beber. Depois aconteceu o mesmo com quintas, sextas... Até que alguém, que não vou me lembrar bem, chegou e disse: “vamos tomar uma lá no Bar da Esquina na segunda?”, ao que recebeu como resposta, “beber segunda é foda!”, ao que replicou, “só uma pra cada um...” A sugestão foi aceita e o “evento” rolou por mais de um ano, sem pausas. Interessante é que quanto mais freqüentávamos e mais gente aparecia por lá, mais a decoração do bar ficava minimalista, com menos caixas de cerveja se empilhando e com mais espaço no interior. Isso já devia ser 2004. Até porque lembro que, mesmo com meu filho bebê, passei algumas noites por lá, já que sempre algum conhecido me interceptava do caminho da casa dele para a minha.

E nos últimos oito anos, o tempo passou pra todo mundo. Eu me formei, cortei o cabelo, perdi o cabelo, trabalhei em uma porrada de lugar... acho que não tirei férias, bem verdade, mas essa é uma outra história. O Bar da Esquina também mudou. Tem telão, pacote pay-per-view, serve comida e tem garçons uniformizados. O senhor que dava o troco errado, como dizia a tal lenda, foi-se. Sentei lá outro dia e não gostei. “Nossos ídolos ainda são os mesmos, mas as aparências não enganam”, como bem disse o Belchior. Bem se aplica ao bar, que já foi tema de ótimas resenhas entre amigos, mini-porres, concentrações para noitadas e grande ponto de encontro.


Ps. Aproveito o momento para agradecer ao Tiago Rattes pelo espaço. Falar de botequim é culturalmente importante.

6 comentários:

  1. O fato é que o "Robarindo" (assim ele era conhecido) mudou. Com os "trocos errados" (bom nome para banda) ele construiu uma casa em Porto Seguro, vendeu o bar para investidores do Bairro Industrial e hoje ri sem roubar. A sua descrição é parecida com a de meus tempos de secundarista, quando ali achávamos terreno fértil para discutir qual curso não fazer.

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  2. Discussão sempre foi algo q nunca faltou nas nossas mesas de bar...

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  3. Sempre achei injusta a lenda de "Robarrindo". Frequentei esse bar qse diariamente de 2000 a 2003- e depois de 2004 a 2006 , e sempre fui bem atendido - inclusive no que tange aos trocos. Seu Eduardo, o dono do bar, era um daqueles paizões e colocava algumas cervejas no freezer de picolé para que nós não tivéssemos que nos levantar para nos servir. Me lembro dos frequentadores estilo pé-sujo trocando polaroides de garotas nuas, e do tio discutindo Nietzsche jogando IôIô (As duas coisas aconteceram, tenho testemunhas!). Me lembro de minha despedida de JF, em 2003, qndo me sentei lá às 11 da manhã (com o Felipe Hutter) e só me levantei lá pelas 2h da manhã seguinte...
    O Bar da Esquina de hoje é quase uma ofensa à sua história...

    PS: Posso ter sido eu a convidá-lo para a cerveja de segunda, visto que descíamos a pé da faculdade e dia da semana nunca foi impeditivo pra mim...

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  4. É provável q sim, Saldanha! Lembro-me de ter tomado cerveja por lá contigo tb... Mas, foi tanta gente q, sinceramente, pode ter sido qq pessoa...

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  5. Vejo-me impelido a fazer um comentário, bem como levar em consideração as palavras do colega El Rafo Saldaña.

    Talvez tivéssemos todos uns vinte e poucos anos, idade em que tudo na vida, por pior que pareça, é melhor. Desde a primeira sentença do primeiro parágrafo, senti um tom nostálgico e pernóstico, o que denota saudosismo, em via de regra. Natural, porque também penso, guardando as devidas proporções, semelhante ao colega Rafo.

    Aos dezoito anos, vim morar por essas bandas, e até hoje continuo por aqui. Foi no Bar da Esquina, em 2002-3 que conheci pelas mãos de César Bellotti um dos meus parceiros-mor, o Lucas Soares. De lá fomos para minha casa, tocar violão até o sono chegar. Que época boa. Mas o tempo passa, camarada, e a vida para outros tantos é diferentes, porém, não melhor que a nossa. Apesar de estarmos em outra.

    Abraço
    Kadu Mauad

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  6. Com certeza, Kadu Mauad!
    O tom é realmente de saudosismo... Por isso, a citação do Belchior ao final! No entanto, relembrar é viver e acredito q a homenagem ao bar seja importante pelo q todos nós vivemos por lá! Abraço!

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