Ali pelos idos de 2002, recém-chegado à Manchester Mineira, andávamos errantes pelas ruas do bairro São Mateus, em busca de cervejas baratas e diversões a preços módicos. Lembro-me que o primeiro bar que forneceu asilo de poucos dígitos aos anseios dos bolsos aos aspirantes a jornalistas foi o extinto Bar do Rezende, ali na esquina da São Mateus com a Romualdo, na rotatória. Á época, o lugar não era muito movimentado e passamos a freqüentá-lo sempre às quartas-feiras, talvez, impulsionados por outros convivas da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora. As marcas eram variadas e acordavam com nossa relação custo-benefício: geralmente, rolava mesmo era Bavária, a prima pobre da AmBev e, posteriormente, a Itaipava.
As quartas-feiras viraram sucesso entre nossos amigos e o bar impraticável, por conta da falta de espaço. E foi por isso, que olhamos para o outro lado da rua. Um misto de mercearia, secos e molhados, decorado por uma significativa quantidade de caixas de cerveja, que reduzia consideravelmente o espaço físico do local, estava lá o Bar da Esquina. Possuía reputação duvidosa e/ou lendária. Diziam que o troco por lá, sempre voltava errado. Nunca liguei. Primeiro, porque meu “tombo” seria leve, já que andava apenas com trocados no bolso. Segundo, porque pela quantidade de cerveja que bebíamos, jamais teríamos condições de fazer contas exatas...
Começamos com umas quartas-feiras, quando deixávamos nossos programas na Rádio Universitária e descíamos do campus da UFJF a pé, para sobrar um pouco mais de dinheiro para beber. Depois aconteceu o mesmo com quintas, sextas... Até que alguém, que não vou me lembrar bem, chegou e disse: “vamos tomar uma lá no Bar da Esquina na segunda?”, ao que recebeu como resposta, “beber segunda é foda!”, ao que replicou, “só uma pra cada um...” A sugestão foi aceita e o “evento” rolou por mais de um ano, sem pausas. Interessante é que quanto mais freqüentávamos e mais gente aparecia por lá, mais a decoração do bar ficava minimalista, com menos caixas de cerveja se empilhando e com mais espaço no interior. Isso já devia ser 2004. Até porque lembro que, mesmo com meu filho bebê, passei algumas noites por lá, já que sempre algum conhecido me interceptava do caminho da casa dele para a minha.
E nos últimos oito anos, o tempo passou pra todo mundo. Eu me formei, cortei o cabelo, perdi o cabelo, trabalhei em uma porrada de lugar... acho que não tirei férias, bem verdade, mas essa é uma outra história. O Bar da Esquina também mudou. Tem telão, pacote pay-per-view, serve comida e tem garçons uniformizados. O senhor que dava o troco errado, como dizia a tal lenda, foi-se. Sentei lá outro dia e não gostei. “Nossos ídolos ainda são os mesmos, mas as aparências não enganam”, como bem disse o Belchior. Bem se aplica ao bar, que já foi tema de ótimas resenhas entre amigos, mini-porres, concentrações para noitadas e grande ponto de encontro.
Ps. Aproveito o momento para agradecer ao Tiago Rattes pelo espaço. Falar de botequim é culturalmente importante.