O Caminho
Como não soubéssemos aonde ir, no almoço de domingo, ficamos em silêncio tentando lembrar algum lugar a que não íamos há muito tempo. Porém de nada adiantou, e achamos por bem sairmos de carro para resolver o itinerário enquanto o próprio caminho nos induzia. Não demorou muito, no primeiro desvio, demos a volta e partimos para o Retiro.
De estômago nas costas, seguimos pela Avenida Brasil até a estrada União Indústria. Chegando à rotatória, que fica logo após a cumeeira da estação da Usina de Marmelos, contornamos o canteiro central, meia-parada, confere, não vem ninguém, entramos à esquerda. Passamos pela ponte sobre o rio Paraibuna, rodamos um bocadinho até o túnel antigo da estrada de ferro, passamos sob ela, e entramos na primeira direita. Transpusemos o córrego; logo à frente, seguimos a cerca-viva margeando a estradinha, e fomos à Rua Aladim Silva, 62. À esquerda, de quem chega, vê-se a escadaria, e ao pé desta um oratório de cimento. À direita, finalmente, o Bar do Totonho! (Para manobrar o carro, quem vai ao final da rua, observa uns dormentes fincados no chão de terra que separam os limites da rua asfaltada com a travessa curta que leva ao túnel pelo qual acabamos de passar e fecha o quarteirão).
Apesar das curvas, do trânsito pesado, da pedreira Santa Mônica, da natureza asfixiante e do apito do trem, que passava senão no imaginário, dir-lhe-ia, que, de fato, o esforço da viagem ao Bar do Totonho, vale à pena quando a Brahma não é pequena.
Também assista ao vídeo do Festival Comida Di Buteco que acontece todo ano em Juiz de Fora. Zine Cultural: Bar do Totonho e salive o Rocambole de Torresmo.
A Chegada
Carro estacionado, nos dirigimos até a porta de entrada do boteco. Mas não era um Bar, senhor cronista?! Sim! E continua sendo; é que para quem nunca foi ao Bar do Totonho, ao chegar, depara-se com uma entrada acima de qualquer suspeita. À primeira vista, trata-se de um boteco da melhor qualidade, tais como os clássicos e inexpugnáveis Pés-Sujos. E que muitas vezes impunemente sofrem achincalhes quando não passam de uma respeitável casa de família. Mas esta visão desaparece rapidamente. Basta uma esticadinha de pescoço que perante seus olhos o lugar se revela como é. Lá verificamos que não havia mesa vaga para duas pessoas. Para isso servem as reservas por telefone, antes de lá chegar; mas isso não era problema, nos acomodamos à mesa de ferro que fica perto do balcão; enquanto esperávamos, pedimos uma cerveja estupidamente gelada e um tira-gosto (mandioquinha com lingüiça). O Totonho, porém, ouvindo aquilo, sugeriu: vocês vão provar a ponta do torresmo, né? E deu uma piscadinha marota (confira, na foto abaixo, a apresentação do pitéu).
O Bar
O dia transcorria azuladamente ensolarado. Depois de um tempo instalados, e de termos passado pelo rito de inclusão ao clima e de o Totonho ter nos feito as honras, vagou-se a mesa na qual aboletar-no-íamos para, finalmente, bater aquele rango de domingo.
Já instalados, fomos logo fazendo o pedido. Costela de boi, por favor, e para acompanhamento, arroz branco, maionese, feijão tropeiro. Tudo devidamente regado à Coca-Cola (explico: a cerveja substancial foi toda sorvida nos momentos que antecederam a este) e também a duas Taruanas porque ninguém é de ferro (clique no alambique).
Muito bem, enquanto esperávamos trazerem a refeição, ficamos de butuca no que estava a nossa volta. Embevecidos pelo dia mágico e pela ambiência favorável, sacamos várias fotos do local.
Destaco a lona que cobre a parte posterior da garagem e filtra a luz, banhando a tudo e a todos de uma aura misteriosamente... azul.
Vale destacar que, para a viagem, leve consigo a abnegação dos faquires e a paciência dos resignados. Sem pressa sempre, e sem desespero, é o que deve ser. Haja vista que perder a cabeça à toa destempera o dia de qualquer um. E se você acha que o local é fora de mão, vai levantando as mãos para o céu e agradeça que nesse Wonderful World ainda existe lugar de verdade.
fotos: Cintia Brugiolo & Kadu Mauad